quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Sorriso perdido


TERÇA-FEIRA, 27 DE SETEMBRO DE 2011

E o Cine Belas Artes fechou. No fim de janeiro, quando ele ainda dava seus últimos suspiros, foi organizada uma festa para angariar recursos para imprimir um abaixo assinado promovido contra o fechamento do cinema. Foi no Studio SP. A banda era aquela do Thunderbird, Tarântulas e tarantinos. Um amigo, Fábio Ornellas, que esta realizando um documentário sobre o Belas (desde muito antes da história do fechamento) me convidou para acompanhá-lo na cobertura do evento. Não havia 50 pessoas ali. Chegamos as dez. A uma da manhã a banda ainda não havia subido ao palco. Bem antes de ir embora, conheci alguns dos representantes mais entusiasmados do movimento pela preservação daquele patrimônio. Entre eles, Sorriso. Um homem com cerca de quarenta anos, com traços orientais, cabelo grisalho, portador da carteirinha de número um do antigo cineclube e de um sorriso certo, que justificava o apelido.

Há uma semana assisti uma cena que não me sai da cabeça. E que me faz escrever essas linhas. Era de manhã. Sai um pouco tarde para o trabalho e tive que ir de transporte público (normalmente vou caminhando). Quando o ônibus dobrou a esquina da Paulista com a Consolação avistei Sorriso. Ele saia apressado da passagem subterrânea que dá acesso ao ponto de ônibus, mas ao invés de seguir o seu caminho e se preparar para pegar o ônibus, derrepente, ele parou. Com os olhos baixos, ele contemplou o cinema, agora desativado. Estava atonito. Parecia nem respirar. Enquanto meu ônibus descia a Consolação, no tempo em que foi possível, observei que ele continuava ali, estático, já sem a referência de outrora. Sem o cinema. Sem o sorriso. Ambos, perdidos.




Essa foi a triste imagem que ele viu.



Escreveu Rafael Munduruca em seu blog.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sai da frente que lá vem escavadeira!


Tratores, gruas e escavadeiras passaram a fazer parte da paisagem de cidades e comunidades, anunciando um processo de destruição/reconstrução jamais visto neste país. Não por acaso, têm sido frequentes os protestos de pessoas que perderão suas casas e bairros ou de grupos que não se conformam em perder referências territoriais construídas ao longo da vida.
O que existe em comum entre o movimento pela permanência do Cine Belas Artes na esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação e a luta dos moradores do bairro da Água Branca, em São Paulo, com a luta da Vila de Pescadores de Jaraguá, em Maceió, e dos moradores do Morro da Providência, em plena área portuária do Rio de Janeiro?
Em todos estes locais, empreendimentos públicos e privados têm ameaçado a existência de comunidades e a permanência de moradores, ou, no caso do Belas Artes, a manutenção de um uso específico de um local.
A pergunta que não quer calar e que vale para todos estes casos é: com que instrumentos nós podemos contar para definir o que merece ser preservado e o que pode ser destruído? Além do valor econômico, que outros valores constituem a cidade e o território? Quem decide quais são estes valores?
Infelizmente, hoje, o planejamento territorial e as regras de uso e ocupação do solo, que deveriam ser, em tese, o instrumento definidor destas questões, ou são “pedaços de papel pintado”, sem nenhuma incidência no processo decisório sobre os investimentos privados e públicos, ou, quando existem, são feitos sob medida para estes investimentos, abrindo basicamente frentes de expansão econômica com pouca ou nenhuma aderência ao conjunto de atores que construíram estes lugares e que deles fazem parte.
Diante deste cenário, resta o instrumento do tombamento, cada vez mais mobilizado pelas comunidades na defesa da permanência de seus valores e territórios. Vale ressaltar que o conceito de patrimônio histórico-cultural evoluiu da identificação da excepcionalidade material para uma compreensão da “referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”, como consta da Constituição de 1988.
Foi sob esta ótica que o Cine Brasília, em 2007, e o Cine Paissandu, em 2008, foram tombados pelos órgãos de patrimônio do Distrito Federal e do Rio Janeiro, respectivamente. É nesta linha que o Cine Belas Artes enfrenta uma discussão em torno de seu tombamento no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de São Paulo (Conpresp).
Mas se quisermos, de fato, enfrentar esta questão, nosso desafio vai muito além: como incorporar valores (além dos valores econômicos) no processo decisório sobre as transformações do país? Isso passa, evidentemente, por maior transparência e discussão pública, mas também pelo necessário amadurecimento da sociedade brasileira no sentido de pensar e planejar antes de fazer.

Por Raquel Rolnik - Yahoo

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Mobilização leva Conpresp a adiar votação do tombamento do Belas Artes

Por Alexandre Sammogini, da equipe de comunicação do MBA

A urbanista Nadia Somekh, representante do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) no conselho municipal de preservação do patrimônio cultural em São Paulo (Conpresp), pediu vista do processo de tombamento do Cine Belas Artes.

Por causa do pedido de vista, foi suspensa a votação prevista para a reunião do Conpresp ocorrida na manhã desta terça-feira (13/09). Os representantes do Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA) comemoraram o adiamento, pois não houve tempo hábil para analisar o processo e preparar a defesa.

Sondagem informal apontava que, se fosse votado hoje, o tombamento seria rejeitado, devido a um discutível parecer contrário da Procuradoria Geral do Município (PGM). Já o parecer técnico do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), órgão assessor do Conpresp, é amplamente favorável ao tombamento, justificando a medida especialmente pelo relevante valor cultural e histórico do cinema e pelas milhares de manifestações públicas de afeto dos cidadãos paulistanos pelo Belas Artes no início do ano, quando foi anunciado o fechamento do cinema.  

Somekh atendeu a um apelo do MBA e cinco entidades ligadas à preservação e ao cinema, que pedem prazo até início de novembro para analisarem e debaterem com a sociedade paulistana os pareceres favoráveis e contrários do processo de tombamento.  

A procuradoria analisou o processo por mais de três meses, indisponibilizando-o para consulta pública, o que impediu seu acesso aos defensores do cinema. A primeira cópia integral do processo foi obtida há pouco mais de uma semana apenas. Apesar do pouco tempo para digerir mais de 620 páginas de processo, uma comissão do movimento formada por Áurea Colaço (advogada da Associação Preserva São Paulo), Beto Gonçalves (representante do MBA) e Fábio Ornelas (documentarista) fez apresentação durante a reunião de hoje do Conpresp em defesa do parecer do DPH e questionou a fragilidade dos argumetnos do parecer da PGM.

Colegas de Somekh, como os urbanistas Nabil Bonduki e Raquel Rolnik, voltaram a defender em blogs e na imprensa nos últimos dias o tombamento do Cine Belas Artes por uma solução inovadora que combine a preservação do prédio e do uso tradicional do cinema como patrimônio imaterial da cidade.

Na próxima quinta-feira, dia 15 de setembro, a partir das 19h30, a Câmara Municipal de São Paulo promove o evento “Noite em Homenagem ao Cine Belas Artes”, com uma sessão de curtas paulistas premiados seguida de audiência pública sobre o tombamento do Belas Artes, com participação de especialistas e autoridades. O evento é uma iniciativa conjunta da Presidência e da Comissão de Administração da Câmara, com apoio do MBA, Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD), Associação Paulista de Cineastas (Apaci), Associação Preserva São Paulo, Conselho Brasileiro de Entidades Culturais (Cebec) e Via Cultural – Instituto de Pesquia e Ação pela Cultura.

Contatos com a imprensa: Eduardo Oliveira - eduardoliveira16@gmail.com

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Movimento pede prazo para analisar pareceres sobre tombamento do Belas Artes


São Paulo (SP), 12/9/2011 - O presidente do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), José Eduardo Lefèvre, comunicou o Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA) na última quinta-feira que o tombamento do cinema irá a regime de votação na reunião do órgão agendada para começar às 9h da manhã desta terça-feira, 13 setembro.
Lefèvre disse que não poderia atender ao requerimento protocolado no dia 19 de agosto pedindo suspensão da votação até 15 de outubro em razão da falta de acesso do movimento a uma cópia do processo. O MBA não sabe, porém, se a recusa foi decisão pessoal do presidente do órgão ou do Conpresp, pois não recebeu resposta oficial sobre o pedido.
O MBA só conseguiu a primeira cópia no último dia 2 de setembro e está efetuando cópias para distribuí-las entre especialistas e representantes de entidades civis ligadas à cultura e ao patrimônio.  Enquanto a Procuradoria Geral do Município (PGM) preparou um discutível parecer contrário ao tombamento, o Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), órgão técnico do Conpresp, assinou parecer amplamente favorável à medida.
A maioria esmagadora dos membros do Conpresp está inclinada a votar contra o tombamento, segundo apurou o MBA, que continua insistindo para que o conselho adie a votação a fim de que tenha tempo mínimo para examinar o processo. O movimento argumenta que ficou sem acesso ao processo por mais de três meses, período em que permaneceu na PGM. Considera, portanto, que é o momento de efetuar análise cuidadosa dos documentos com especialistas em direito, patrimônio e urbanismo e debatê-los com a sociedade paulistana.
Além do mais, a Câmara Municipal de São Paulo, por iniciativa conjunta de seu presidente, José Pólice Neto, e da Comissão de Administração, presidida pelo vereador Eliseu Gabriel, convocaram audiência pública sobre o tombamento do Belas Artes para a próxima quinta-feira, dia 15 de setembro.
A audiência fará parte da “Noite em Homenagem ao Cine Belas Artes”, que começará às 19h30 com uma sessão de uma hora de curtas paulistas premiados e terá a presença de ex-funcionários do cinema e até do seu Josafá, o pipoqueiro que por quase três décadas serviu os frequentadores do cinema e fará pipocas para o público do evento. O MBA recomenda aos conselheiros do Conpresp e seus suplentes que participem da audiência a fim de conhecerem diferentes argumentos a respeito do tombamento.
O movimento também aguarda resposta do secretário municipal da Cultura, Carlos Agusto Calil, a ofício protocolado no órgão no dia 19 de agosto, solicitando reunião para tratar de políticas públicas de incentivo aos cinemas de rua e da preservação do Cine Belas Artes. Calil manifestou apoio público ao tombamento em diversas  ocasiões no decorrer do ano.
O Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA) é formado por cidadãos preocupados com o fim dos cinemas de rua em São Paulo e as entidades Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD), Associação Paulista de Cineastas (Apaci), Associação Preserva São Paulo, Conselho Brasileiro de Entidades Culturais (Cbec) e Via Cultural – Instituto de Pesquisa e Ação pela Cultura

Contatos com a imprensa: Eduardo Oliveira, eduardoliveira16@gmail.com (Para entrevistas, temos à disposição advogados, arquitetos, cineastas, cinéfilos e representantes do MBA e de entidades culturais e ligados ao patrimônio) do Belas Artes

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mostra de curtas em homenagem ao Cine Belas Artes

No próximo dia 17/09, completam-se 6 meses que o cinema está fechado. Portanto, foi criado um evento no dia 15/09 para mostrar aos conselheiros do CONPRESP - órgão que analisa e delibera sobre os pedidos de tombamento - que São Paulo não esqueceu do relevante papel cultural, histórico e afetivo que o Cine Belas Artes possui na memória viva da cidade.

É muito importante a sua presença, lembrando que a decisão sobre o tombamento poderá sair ainda esta semana.

Programação:

19h30 - Sessão de curtas paulistas premiados

Rota ABC - 1991. Direção: Francisco Cesar Filho. 11 min. Prêmios: Contribuição Artística no Anima Mundi 2003, Melhor Curta e Melhor Fotografia no Festival de Brasília 1991.
Sinopse: Ensaio documental sobre os anseios e perspectivas da juventude moradora no subúrbio industrial do ABC paulista, ao som da banda punk Garotos Podres.

L - 2011. Direção: Thais Fujinaga. Com: Cheng Ne, Henrique Schafer, Luis Mai King e Sofia Ferreira. 21 min. Prêmios: Porta Curta Petrobras, Avon, Centro Técnico Audiovisual (CTAV) e
Troféu ABD-SP, todos no Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo 2011.
Sinopse: Teté odeia seus pés. Quando conhece Héctor, decide mudar sua aparência.

Palíndromo - 2001. Direção: Phelippe Barcinski. Com: Eucir de Souza, Eugênio Puppo e Silvio Restiffe. 11 min. Prêmios: Festival de Gramado 2002 (filme, diretor, montagem e crítica), Festival de Recife 2002 (diretor e som), Prêmio ABD e C no Festival do Rio 2002 e Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá 2002.
Sinopse: Um homem perde tudo que tem. Uma história simples contada de forma inusitada.

20h30 – Debate sobre o Cine Belas Artes

Convidados:

- Nabil Bonduki, Professor da FAU/USP;
- Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura;
- Andrea Matarazzo, secretário estadual de Cultura;
- José Eduardo Lefèvre, presidente do CONPRESP;
- Fernanda Bandeira de Mello, presidente do CONDEPHAAT;
- E você, que dentre os 68 anos, participou e fez a história desse ícone da cultura de São Paulo, e que acha que cidade que na para, não pode perder o Cine Belas Artes.

Então, apóie, divulgue e o mais importante, compareça.
Conforme tivermos mais informações sobre o evento, postaremos aqui.

Twitter: @querobelasartes

Blogwww.querobelasartes.blogspot.com
Causeshttp://www.causes.com/causes/561939-contra-o-fechamento-do-cine-belas-artes
Abaixo Assinadohttp://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/7873
Eventohttp://www.facebook.com/event.php?eid=266084953411025

Realização:
Presidência e Comissão de Administração da Câmara Municipal de São Paulo

Apoio:
Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA), Associação Paulista de Cineastas (Apaci), Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas (ABD) e Via Cultural – Insituto de Pesquisa e Ação pela Cultura

REABERTURA DO CINE BELAS ARTES SERÁ DEBATIDA EM AUDIÊNCIA


A Comissão de Administração Pública aprovou nesta terça-feira um requerimento em que seu presidente, vereador Eliseu Gabriel (PSB), pede a realização de audiência pública para discutir incentivos e políticas públicas para o cinema de rua e para a reabertura do Cine Belas Artes, localizado na Consolação.
O encontro está marcado para o próximo dia 15, às 20h, no Auditório Freitas Nobre da Câmara Municipal de São Paulo. Segundo Gabriel, o Cine Belas Artes faz parte da história de São Paulo e precisa receber incentivo. "Cinema é cultura e os localizados nas ruas são os mais acessíveis. No entanto, eles estão acabando por interesses, por exemplo, de imobiliárias", afirmou.
O vereador ainda acrescentou que "é necessária a luta da comunidade pela preservação e defesa da história de São Paulo".
Carlos Neder (PT), também membro da Comissão de Administração Pública, apoiou a iniciativa. "Precisamos observar que os bairros localizados nas periferias não contam com salas de projeção de filmes. Normalmente, apenas os shoppings contam com cinemas. Por isso, é importante incentivar o cinema de rua por meio de apoio do poder público", explicou.

(06/09/2011 - 15h47)