Pronto, acabou. Fui lá, ao Belas Artes, acompanhar o encerramento do cinema. Estava cheio como nunca. Televisões, repórteres, velhos e novos frequentadores. Sobretudo jovens. Mas os velhotes, os do tempo do Riviera, estavam lá. Foi uma confraternização, que oscilava com o clima de velório. Havia coisas engraçadas, como um bonequinho de vudu, representando o proprietário do imóvel. As pessoas eram convidadas a espetar umas agulhinhas nele.
Encontrei gente que não via há muitos anos. Rimos e brincamos, com uma certa melancolia. Dei um abraço no André Sturm, o dono do cinema, e cumprimentei-o pela luta. Na hora, esqueci de dizer a ele que é sempre melhor cair lutando do que entregar os pontos. Aliás, o André fez uma coisa legal. Antes de cada sessão, entrava na sala, falava um pouco do cinema, sem qualquer pieguice, e agradecia às pessoas por estarem lá dando uma força. E curtindo uma última sessão como despedida do velho cinema.
Fui lá só para dar o tal abraço no André e sentir o clima. Mas não resisti e acabei entrando numa das sessões para ver um filme. Escolhi O Joelho de Claire, um Rohmer delicioso. No final, a plateia aplaudiu. Notei que as palmas não eram tanto para o filme, mas para o cinema que o exibia. Na saída, ainda encontrei alguns amigos, que deixavam a sessão da sala ao lado – era O Leopardo, de Luchino Visconti.
Fui embora, sem olhar para trás. Despedidas me incomodam um pouco, em especial quando se prolongam demais.
Guardei o ticket da última sessão. Sala Aleijadinho, 21h32, O Joelho de Claire. A última sessão de cinema, como no filme do Peter Bogdanovich. Vou guardar o ingresso na carteira, como lembrança. Se, por acaso, o tombamento do cinema vingar e ele voltar à ativa, pego o ticket, faço uma bolinha de papel e jogo fora.
Com a maior alegria.
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