sábado, 19 de janeiro de 2013

Belas Artes: Começa diálogo que pode reabrir cinema


Reunião com prefeitura de São Paulo anima grupos que lutam para reativar salas. Surge ideia de convertê-las em polo de um corredor cultural

Por Bruna Bernacchio

Reacesa com a posse do novo prefeito de São Paulo a luta para resgatar um importante patrimônio cultural da cidade ganhou ainda mais fôlego ontem (17/1). Representantes do Movimento Belas Artes (MBA) e outros grupos da sociedade civil reuniram-se pela primeira vez com o novo secretário da Cultura, Juca Ferreira. O encontro acabou com a atitude de indiferença adotada nos dois últimos anos pelo poder público. Juca assegurou que a prefeitura tem interesse na volta do cinema, ameaçado de se converter em loja de departamentos. Embora haja obstáculos importantes para o resgate, abriu-se um canal de diálogo para buscar soluções. Animado, o movimento já pensa num projeto mais amplo, que transformaria o Belas Artes num dos marcos de um novo corredor cultural Paulista-Consolação, no centro da metrópole. Se impulsionado pela prefeitura, contribuiria para enfrentar a tendência à mercantilização dos espaços públicos.
“Juca ouviu muito”, contou, à saída da reunião, Moura Reis, jornalista aposentado e crítico de cinema. Estava interessado em conhecer a história e as ideias do movimento. “A cidade está carente de diálogo”, disse o secretario. Para os defensores do Belas Artes, já é um passo muito significativo. Desde o início do movimento, “a atitude da prefeitura e do Estado foi renitente e omissa quanto a uma solução definitiva para o caso na maior parte do tempo”. Dessa vez, Juca registrou, ele mesmo, as propostas e comprometeu-se a estudar as possíveis formas de recuperar o espaço, prevendo uma nova reunião para depois do carnaval. Além dele, estavam presentes o vereador recém-eleito Nabil Bonduki, e Vera, assessora de Eliseu Gabriel, presidente da CPI do Belas Artes e atual Secretario do Trabalho.
“A CPI ajudou para ver as soluções democráticas”, analisa Moura. O Cine Belas Artes foi por décadas um tradicional cinema de rua e importante território de formação cultural. Teve de ser fechado no início de 2011 por um brusco aumento no aluguel e falta de financiamento. Flávio Maluf, o dono do imóvel, nunca se importou com a perda do patrimônio: desde o início demonstra seu desejo de vender o prédio para quem puder pagar mais. A negociação com ele ainda não foi iniciada. Além disso, se o imóvel em que está o cinema for declarado de utilidade pública, como propõe o relatório da CPI, é necessária uma parceira com a iniciativa privada, para sustentar as salas. O projeto do corredor cultural Paulista-Consolação por enquanto continua no sonho — mas foi a ideia recebida com mais entusiasmo pelo secretário.
A ideia surgiu quando se buscava “pensar uma solução de forma mais integrada, sincronizar políticas para cultura, educação e turismo”, conta o jornalista Beto Gonçalves, um dos principais articuladores do movimento. O corredor abrangeria uma área que começa na Avenida Vergueiro, com seu popular centro cultural, atravessa a Paulista e a Consolação e chega até a recém-reformada e ocupada Praça Roosevelt. Seria composto por vários polos. Em um deles, o da esquina Paulista-Consolação, diversos pontos que se inter-relacionam: o Cine Belas Artes, a Praça do Ciclista, a passagem subterrânea e seu sebo, o futuro Museu do Instituto Moreira Salles, e outro clássico a ser reaberto, o Bar Riviera — projeto do chef Alex Atala e o empresário Facundo Guerra. O Belas Artes, utilizado assim em seu auge, volta a ser a âncora da natural simbiose desses polos. A Praça do Ciclista como representação de uma nova consciência para uma cidade mais humana.
Seria uma medida de contratendência à especulação imobiliária. Em uma área almejada pelo mercado comercial e financeiro, a prefeitura tem a oportunidade de estimular — ainda mais — o movimento contrário, já em curso, de convivência nos espaços públicos. Em um momento de desindustrialização da cidade, ganha importância outra movimentação, também com potencial econômico: a da criatividade. São Paulo, como importante megalópole mundial, aproveitaria seu grande potencial para tornar-se um centro de cultura de rua, de diversidade, tolerância, convivência.

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